Em dezembro, foram observadas anomalias negativas de Pressão ao Nível do Mar (PNM) em praticamente todo o Oceano Austral, com valores extremos de até -16 hPa no mar de Weddell (Figura 35). No nível de 500 hPa, registrou-se anomalia negativa de geopotencial no platô antártico, mantendo o padrão estabelecido em outubro passado (ver Figura 12, seção 1).
O campo de anomalia de vento em 925 hPa destacou a circulação anticiclônica anômala entre a região antártica e o setor sudeste do Oceano Pacífico Sul (Figura 36). Foram registrados dois episódios de escoamento de ar de sul para norte, a partir do norte e nordeste do mar de Bellingshausen e noroeste do mar Weddell em direção ao sul do Brasil, totalizando três dias. Este fraco escoamento aparentemente não influenciou nas temperaturas médias no sul do Brasil.
O campo de anomalia de temperatura do ar em 925 hPa também evidenciou valores negativos em praticamente todo o Oceano Austral, com anomalias de até -3°C nos mares de Amundsen e Bellingshausen (Figura 37). No nível de 500 hPa, foram registradas temperaturas até 2ºC acima da climatologia no interior do continente, mantendo a tendência iniciada em fevereiro passado.
Destacou-se uma circulação ciclônica anômala bem organizada sobre o mar de Weddell, sudoeste do Atlântico Sul, no nível de 925 hPa, assim como uma circulação anticiclônica anômala sobre o norte mar de Amundsen (ver Figura 36). Esta configuração contribuiu, provavelmente, para a fraca retração na extensão do gelo marinho no mar de Weddell e maior retração no mar de Bellingshausen (Figura 38).
Na estação brasileira, Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), registraram-se ventos predominantes de sudoeste. Este foi um dos meses que apresentou ventos mais fortes em 2008, sendo a magnitude média mensal de dezembro igual a 7,6 m/s, ficando acima da média climatológica para este mês (5,4 m/s). A temperatura média do ar, igual a 1,7ºC ficou acima da normal (1,2ºC), mantendo a tendência de temperaturas pouco acima da média, desde maio de 2008. Neste mês, nove frentes e nove ciclones extratropicais atingiram a região da Península Antártica, sendo este o dezembro mais ativo desde 2003.
Considerando a climatologia da EACF (período de 1986 a 2008), este ano de 2008 apresentou alguns recordes ou valores de destaque. Ocorreu a primavera mais quente já registrada (setembro, outubro e novembro), com temperatura média igual a 0,1ºC, ou 2,1ºC acima da média sazonal histórica. Este foi o segundo ano mais quente, 1ºC acima da normal, com média de -0.7ºC, igual ao ano de 1999 e inferior apenas a 1989 (-0,1ºC). O ano de 2007, cuja média foi igual a -3.1ºC, foi o mais frio desde 1986, indicando, assim, a grande variabilidade interanual na região. Em 2008, a menor temperatura registrada foi -15,5ºC em 17 de junho, enquanto que a maior (9,1ºC) ocorreu em 27 de novembro.
Neste ano de 2008, foi registrada a maior intensidade do vento desde 2001, com média de 6,6 m/s, com predomínio das direções de norte e oeste. A pressão média anual (991,2 hPa) manteve a tendência de queda dos últimos três anos. Em 05 de julho, um ciclone reduziu a pressão na EACF ao menor valor do ano (947,9 hPa). Este mesmo valor ocorreu em 14 de agosto e representou um recorde de menor pressão para este mês. Em 20 de julho, houve a máxima pressão do ano, 1029,2 hPa. No total, 74 frentes e 133 ciclones extratropicais atuaram na Península Antártica e na EACF, sendo estes os maiores valores desde o início de seu acompanhamento, em 2002. Setembro teve o maior número de casos, com seis frentes e dezoito ciclones. Os ciclones-bomba, com queda de pressão maior que 24 hPa/24h, foram em número de 10 em 2008, sendo que ocorreram doze em 2007 e treze em 2006. A maior influência do escoamento atmosférico em baixos níveis, proveniente das regiões subantárticas, nas temperaturas do sul e sudeste do Brasil, foram: fevereiro, junho e setembro.
Dados anuais completos e resumos mensais, bem como a climatologia da EACF, encontram-se disponíveis no site http://www.cptec.inpe.br/prod_antartica/data/resu mos/climatoleacf.xls. As indicações geográficas dos mares da Antártica estão disponíveis no final desta edição (ver Figura B, no Apêndice).
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